Entenda por que o filme sobre Maomé foi considerado ofensivo por muçulmanos
                  
Atualizado em  14 de setembro, 2012 - 18:56 (Brasília) 21:56 GMT
                  
 
Milhares de pessoas têm 
protestado em países da Ásia, da África e do Oriente Médio contra um 
filme feito nos Estados Unidos, que retrata o profeta Maomé. A BBC 
explica por que a obra tem causado tanta indignação:
O que o filme mostra?
O vídeo, que é o trailer de um filme mais longo chamado 
Innocence of Muslims
 ("Inocência de Muçulmanos", em tradução livre), parece retratar o islã 
como uma religião de violência e ódio, e Maomé, como um homem tolo e com
 sede de poder.
                     
                     
A primeira cena do vídeo mostra uma 
família cristã copta vivendo em um Egito em processo de radicalização e 
sofrendo ataques de muçulmanos. O pai diz às filhas que os muçulmanos 
estão matando os cristãos e que o Estado islâmico está escondendo seus 
crimes.
                     Em seguida, o filme mostra o profeta Maomé com 
sua família e seus seguidores no deserto. Maomé é mostrado em posições 
sexuais com a sua mulher e com outras. Uma das sequências que mais 
insultaram os muçulmanos inclui uma referência a Maomé sancionando o 
abuso de crianças, e em determinado momento o profeta revela ser 
homossexual.
                     Muitos dos personagens recitam versos 
supostamente tirados do Corão, mas claramente inventados, falando de 
matar e extorquir pessoas.
                     
Por que o conteúdo é tão ofensivo?
Qualquer representação de Maomé já vai contra os
 ensinamentos islâmicos - imagine então uma representação satírica e 
crítica. A descrição pouco elogiosa da mulher de Maomé e de seus 
seguidores também é considerada uma blasfêmia.
                     O princípio fundador do islã é que o Corão é a 
palavra direta de Deus, revelada a Maomé para ser divulgada à 
humanidade. Sendo assim, o fato de o vídeo sugerir que o Corão é 
inspirado em versos do Antigo e do Novo Testamento também é uma afronta 
aos muçulmanos.
                     Outras referências aos casos de Maomé com 
mulheres, a sua ganância e sua tendência à violência também são 
ofensivas em qualquer contexto.
                     
O que se sabe sobre o vídeo?
Acredita-se que o filme completo tenha cerca de 
uma hora, ainda que o vídeo mais visto seja um trailer de 14 minutos, 
amplamente divulgado em inglês e árabe.
                     O filme tem características amadoras, no que diz
 respeito a atores, cenário e produção. Foi filmado durante cinco dias 
em um estúdio da Califórnia em agosto do ano passado, com cerca de 50 
atores e outras dezenas de produtores.
                     A maior parte do conteúdo ofensivo parece não estar presente no filme original, e sim ter sido dublada posteriormente.
                     
Quem é Nakoula Basseley Nakoula?
O trailer foi colocado no YouTube por uma conta 
ligada ao usuário "sambacile" - inicialmente descrito como um judeu 
israelense que levantou US$ 5 milhões com israelenses nos EUA para fazer
 o filme. Mas essa pessoa não existe.
                     Autoridades dos EUA agora dizem ter identificado
 Nakoula Basseley Nakoula, um egípcio cristão copta que vive na 
Califórnia e pode ser o autor do filme. Basseley, condenado por fraude 
em 2010 e forçado a pagar mais de US$ 790 mil em restituições, é 
suspeito de ter usado o pseudônimo "Sam Bacile" para esconder sua 
identidade. Ele nega as acusações.
                     
O que dizem os atores?
Eles alegam que foram enganados a respeito do 
filme, dizendo que o projeto original não tinha nenhuma relação com o 
islã ou com o profeta. Segundo eles, todas as referências a Maomé e os 
insultos religiosos foram adicionados depois, na fase de pós-produção.
                     Cindy Lee Garcia, que fez uma pequena 
participação no filme, disse ao site Gawker.com que ela e seus colegas 
receberam um roteiro de um filme chamado Desert Warriors ("Guerreiros do
 Deserto", em tradução livre), que seria um drama histórico ambientado 
no Oriente Mèdio.
                     A atriz confirmou ter visto Nakoula durante as gravações.
                     
Tem algo mais acontecendo nessa polêmica sobre o filme?
Como ficou evidente depois da publicação dos 
charges sobre Maomé em 2006, líderes políticos e religiosos na região se
 utilizam desses supostos insultos ao islã para provocar manifestações 
públicas.
                     Manifestações começaram a se espalhar do Egito 
para outros países - inflamado talvez pela mídia local - por causa da 
desconfiança em relação ao Ocidente, algo que muitos grupos vêm 
capitalizando sobre a polêmica.