Lula, o pai das empreiteiras: filme sobre ex-presidente teve patrocínio de três empresas enroladas com Lava Jato
Por Felipe Moura Brasil
access_time11 fev 2017, 15h27 - Publicado em 3 fev 2015, 00h06
Exibido nesta segunda-feira (2) pelo canal Cinemax, o filme chapa-branca “Lula, o filho do Brasil” foi patrocinado e apoiado por um grupo de 18 empresas – a maioria delas com negócios com o governo do PT – que doou 12 milhões de reais para a produção, uma fortuna para os padrões cinematográficos nacionais.
Três empreiteiras hoje enroladas com a Operação Lava Jato integraram esse grupo:
1) Camargo Corrêa – Participava das obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, tendo recebido, em 2008, 102,7 milhões de reais. Agora, o diretor-presidente, Dalton Avancini, o presidente do Conselho de Administração, João Ricardo Auler, e o diretor vice-presidente da empreiteira, Eduardo Leite, estão presos preventivamente desde novembro na carceragem da Polícia Federal em Curitiba por envolvimento com fraudes e lavagem de dinheiro envolvendo contratos com a Petrobras.
2) OAS – Foi uma das financiadoras da campanha de reeleição de Lula e também atuante nas obras do PAC, tendo recebido, em 2007, 107 milhões de reais. Agora, o presidente Léo Pinheiro e os executivos Mateus Coutinho, Agenor Medeiros e José Ricardo Breghirolli estão presos na carceragem da Polícia Federal em Curitiba por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. Ressentidos com os presidentes que lhes dão as costas na hora do sufoco, eles planejam levar Lula e Dilma Rousseff à roda da justiça também, como revelou VEJA desta semana.
3) Odebrecht – Venceu em 2007, em parceria com a estatal Furnas, a licitação para a construção da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, quando o valor do investimento foi definido em 9,5 bilhões de reais, com 75% do total financiado pelo BNDES. Agora, a empreiteira que pagou 23 milhões de dólares ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, segundo o delator, e a única ainda sem ninguém preso, está incomodada com os “vazamentos” na Lava Jato: “Os vazadores sentem-se à vontade para atingir seu pérfido intento: levar a público declarações naturalmente sujeitas à verificação e decerto adredemente selecionadas para, à margem do devido processo legal, atingir a imagem de empresa com sólida reputação a zelar”, diz um trecho da petição dos advogados, entre os quais a sócia do falecido Márcio Thomaz Bastos. Como se não fôssemos nós os incomodados com o vazamento de dinheiro dos nossos impostos para propinas e superfaturamentos de obras públicas.
Na época de lançamento do filme sobre (o mito de) Lula, em novembro de 2009, o diretor de uma empreiteira
contou à VEJA, reservadamente, o que de fato as atraiu. Segundo ele, os produtores deixaram claro que se tratava de um filme oficial, de interesse e “autorizado” pelo presidente da República. As empresas então desembolsaram quantias que variaram de 500 000 a 1 milhão de reais. “Que empresa não iria querer participar? Isso ajuda a abrir várias portas no futuro. Ou, pelo menos, a não fechá-las”, admitiu o funcionário.
As portas, de fato, ficaram abertas entre os petistas e as empreiteiras, como hoje comprovam as investigações. No primoroso livro
Tudo ou nada, Malu Gaspar conta que Eike Batista tampouco “alimentava qualquer ilusão de que seus projetos — tão dependentes de concessões, licenças ambientais e autorizações de todo tipo — pudessem deslanchar sem a boa vontade dos governantes”. Ciente da “importância de ter bons amigos no governo na hora do aperto”, Eike decerto não foi o único nos últimos doze anos a se perguntar “Como faço para virar um empresário do PT?” e a alcançar temporariamente esse objetivo. Os executivos de Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht também conseguiram seu quinhão do Estado obeso brasileiro.
Se “Lula, o filho do Brasil” é filho dessas empreiteiras, Lula é o verdadeiro paizão de todas elas.